O que faz
a felicidade dos exportadores felizes
Por Sara
Raquel Reis
Nos
últimos meses, percebi certa dificuldade - quase impossibilidade - em encontrar
frutas de boa qualidade nos supermercados e feiras livres. E sempre escuto de
vendedores e outros compradores a frase "é por causa da seca". Mas
então, me deparo com a seguinte matéria Cresce em quase 121% a exportaçãode frutas do Vale do São Francisco, no portal de notícias G1 de Petrolina
e região e derivada do release publicado no site da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
(Infraero). Esses dados são resultado da irrigação, que faz do Vale do São
Francisco o pólo da fruticultura irrigada no Brasil.
Segundo a
reportagem, "os exportadores
estão comemorando a quantidade de frutas vendidas para Europa, Ásia e Estados
Unidos". Infelizmente, para a população do Vale do São Francisco, que não
faz sua feira em nenhum desses três lugares, esse dado não diz muita coisa. Ou
melhor, diz o porquê de só encontrarem refugo à venda.
É
impossível analisar essa matéria sem lembrar os resultados do Índice da Cesta
Básica (ICB) do mesmo mês que diz "Estas exportações reduzem a
disponibilidade do produto no mercado interno e elevam o custo de produção de
seus derivados". O aumento do dólar, que oscila, mas não cai, é propício
para os produtores lucrarem com a exportação.
Não há
erro de dados - até onde sabemos - na matéria, mas há omissão do outro ângulo dos
fatos. O que move a exportação? Como ela lida com a estiagem? Como ela
interfere na qualidade dos produtos que consumimos? A assessoria da Infraero
não tem obrigação de trazer esses esclarecimentos para o público, mas o
jornalismo tem.
Infelizmente,
essa omissão não aconteceu apenas nessa matéria, mas também na divulgação dos dados do ICB feita no GRTV 2ª edição, no dia 13 de maio. Isso mostra uma falta
de atenção com o valor serviço que a notícia poderia e deveria ter. É função
do jornalismo não apenas informar, mas interpretar, dar sentido e estimular a
reflexão sobre os temas.
A matéria de Crítica da Mídia tem o objetivo de nos
fazer apurar o olhar para o cumprimento dessa função na nossa mídia. Mas essa
tarefa de analisar os meios de comunicação e apontar suas falhas na prestação
de serviço à sociedade é mais complexa do que pode parecer, pois deve levar em
consideração aspectos que não estão expostos nas notícias. É necessário um
conhecimento e criticidade que só com a experiência pode ser desenvolvido. Vai
além das matérias da faculdade, mas começa por elas.