Por Dayane Késia
A. da Silva
É
sempre bom sair da zona de conforto em que vivemos para reconhecer as verdades
que nos rodeiam. Durante esta semana a revista CartaCapital exerceu esta atividade
aos olhos de seus leitores e levantou
indagações sobre a história e o contexto da realidade de Petrolina-PE,
pouco conhecida e questionada por sua população.
Tal matéria traz como título "Petrolina e o coronelato" e faz referências as linhas políticas, econômicas e sociais
que a cidade vive. O ponto central de seu questionamento foca na desigualdade
da cidade que apresenta PIB
per capita de 15.334 reais, mas que passa uma linha imaginária e separa
as classes sociais pelo pecúlio.
A CartaCapital é uma revista semanal
de grande repercussão nacional que destinou ao entorno do Velho Chico uma breve
narrativa sobre o seu contexto. É interessante pensar que esta revista deu
notoriedade ao assunto que os próprios meios de comunicação da região deveriam
dar, por possuir maior autoridade ao falar de seus próprios problemas.
É relevante pensar como muitas vezes
os nossos problemas são reconhecidos pelos que não fazem parte dele e tentar
encarar de fora essa situação parece apresentar um percentual melhor de
entendimento. A CartaCapital mostrou o que os leitores deveriam ver nos meios
de comunicação da própria região e que não é encontrado.
A falta de agendamento sobre os problemas
diz muito sobre os meios de comunicação, ou é por falta da própria percepção de
aprofundar a questão ou isso já é algo proposital dos veículos por fazer parte desse "cartel de coronelato", no intuito de esconder mesmo a verdade
dos fatos.
Platão em uma de suas Parábolas mais
famosas, conhecida como o Mito da Caverna, descreveu da seguinte forma a
realidade humana: "No interior da caverna permanecem seres humanos, que
nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem
poder mover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder
ver uns aos outros ou a si próprios. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira,
separada deles por uma parede baixa, por detrás da qual passam pessoas
carregando objetos que representam "homens e outras coisas viventes".
As pessoas caminham por detrás da parede de modo que os seus corpos não
projetam sombras, mas sim os objetos que carregam. Os prisioneiros não podem
ver o que se passa atrás deles, e veem apenas as sombras que são projetadas na
parede em frente a eles. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm
de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às
sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros
julgam que essas sombras sejam a realidade".
Podemos fazer uma relação entre o
Mito da Caverna e o jornalismo da região, os meios muitas vezes trazem uma
parte da realidade - e mesmo sabendo da dificuldade de saber da totalidade dos fatos - o maior pecado está
em não conhecer a profundidade dos problemas ou excluir determinados fatos por
receio de penetrar em um universo que descubra outros fatos. É preciso banhar
os meios com os próprios problemas para que o olhar do leitor seja emancipado e
para que se sinta o verdadeiro gosto do Velho Chico.
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