sábado, 30 de abril de 2016

A Caverna de Platão (ou de Petrolina)

Por Dayane Késia A.  da Silva
            É sempre bom sair da zona de conforto em que vivemos para reconhecer as verdades que nos rodeiam. Durante esta semana a revista CartaCapital exerceu esta atividade aos olhos de seus leitores e levantou  indagações sobre a história e o contexto da realidade de Petrolina-PE, pouco conhecida e questionada por sua população.  
            Tal matéria traz como título "Petrolina e o coronelato" e faz referências as linhas políticas, econômicas e sociais que a cidade vive. O ponto central de seu questionamento foca na desigualdade da cidade que apresenta PIB per capita de 15.334 reais, mas que passa uma linha imaginária e separa as classes sociais pelo pecúlio.
            A CartaCapital é uma revista semanal de grande repercussão nacional que destinou ao entorno do Velho Chico uma breve narrativa sobre o seu contexto. É interessante pensar que esta revista deu notoriedade ao assunto que os próprios meios de comunicação da região deveriam dar, por possuir maior autoridade ao falar de seus próprios problemas.
            É relevante pensar como muitas vezes os nossos problemas são reconhecidos pelos que não fazem parte dele e tentar encarar de fora essa situação parece apresentar um percentual melhor de entendimento. A CartaCapital mostrou o que os leitores deveriam ver nos meios de comunicação da própria região e que não é encontrado.
            A falta de agendamento sobre os problemas diz muito sobre os meios de comunicação, ou é por falta da própria percepção de aprofundar a questão ou isso já é algo proposital dos veículos por fazer parte desse "cartel de coronelato", no intuito de esconder mesmo a verdade dos fatos.
          Platão em uma de suas Parábolas mais famosas, conhecida como o Mito da Caverna, descreveu da seguinte forma a realidade humana: "No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder mover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, sem poder ver uns aos outros ou a si próprios. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira, separada deles por uma parede baixa, por detrás da qual passam pessoas carregando objetos que representam "homens e outras coisas viventes". As pessoas caminham por detrás da parede de modo que os seus corpos não projetam sombras, mas sim os objetos que carregam. Os prisioneiros não podem ver o que se passa atrás deles, e veem apenas as sombras que são projetadas na parede em frente a eles. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade".
            Podemos fazer uma relação entre o Mito da Caverna e o jornalismo da região, os meios muitas vezes trazem uma parte da realidade - e mesmo sabendo da dificuldade de saber  da totalidade dos fatos - o maior pecado está em não conhecer a profundidade dos problemas ou excluir determinados fatos por receio de penetrar em um universo que descubra outros fatos. É preciso banhar os meios com os próprios problemas para que o olhar do leitor seja emancipado e para que se sinta o verdadeiro gosto do Velho Chico.





Nenhum comentário:

Postar um comentário